31 janeiro 2019

Janeiro

Não me lembro de alguma vez na vida ter tido um Janeiro tão caótico.

Por motivos profissionais Janeiro é habitualmente super preenchido e stressante mas este mês deu 10 a zero a todos os outros, desde que me lembro de ser gente.

Foi a gripe, foi a pneumonia, duas semanas a ganhar mofo em casa, o caos a triplicar no trabalho e como se não bastasse esteve um briol inacreditável.

Podia ter aproveitado as semanas em casa para colocar os posts em ordem, gostava de vos ter falado sobre o Natal na tribo, sobre o revelhão, os meus objetivos para 2019 entre tantas outras coisas, mas não me apeteceu. Passei dias a dormir, entregue à depressão e à pneumo. Nem sei o que meu deu, entrei num estado de inércia e não me apeteceu fazer um boi.

Quando estava acordada via os Alerta CM e os programas do Discovery Channel e National Geographic. Papei todos os conteúdos relacionados com pessoal a descobrir ouro, malta da apanha da minhoca, a dupla da apanha de cogumelos, o velhote do dique para pescar enguias e criei até bastante empatia pela família que vive no meio do Alasca.

Não me esqueci da pesca radical, adoro quando sacam as armadilhas do agitado mar de Bering cheias de caranguejo real e entretanto aprendi a identificar quando um atum rabilho vale 40 dólares o Kilo, de tanto ver o programa Wicked Tuna

Também adoro os que sobrevivem em pelota no meio de nenhures mas como é transmitido à noite e tomava uma medicação que me fazia desmaiar em 2 minutos, não consegui ser uma telespectadora tão pontual.

Depois chegavam os miúdos, queriam ver aqueles bonecos sem jeito nenhum e acabava-se o meu reinado de TV.

Adeus Janeiro, Fuck Off.

 

16 janeiro 2019

Sobre Agradecer - Obrigada enfermeira Matilde Almeida Guerreiro

2019 não podia ter começado da pior forma. Uma gripe tramada não me larga desde o início do ano e levou-me às urgências do hospital São Bernardo em Setúbal. Era 1h30 da madrugada sentia-me com muita falta de ar, uma tosse que me despedaçava a cabeça e corpo e não hesitei. Sabia que não podia ser "apenas" gripe, tinha de ser algo mais.

Estava um frio horrível, apanhei 0 graus ao longo do caminho. Cheguei às urgências e a sala de espera vazia, também quem vai ao hospital aquela hora? pensei. 

Fiz a triagem e encaminharam-me directamente para uma sala de tratamentos onde contei 19 pessoas, maioritariamente idosas, a receber oxigénio com recurso a máscaras, umas sentadas, outras em macas e aquilo pareceu-me um género de apocalipse. 

Eu sou facilmente impressionável, odeio hospitais, choro com agulhas, sou super sensível à dor, desmaio quando vejo sangue e sinto-me miserável nestes ambientes. 

Estive muito tempo naquela sala a observar tudo o que se passava, ouvia as lamurias das pessoas, queixavam-se com dores, com falta de ar, e do tempo que estavam ali à espera, umas desde as 21h, outras desde as 17h e eu pensei que aquela hora não ia ser atendida nunca.

Naquela sala havia uma pessoa que era o centro da minha atenção. Uma enfermeira de um profissionalismo incrível, carinhosa, muito dedicada e do mais humano que já conheci. Ela andava de um lado para o outro a acudir às várias situações pendentes e eu via-a com uma capa de super heroína! Pouco tempo depois de eu chegar à sala ela lembrou-se que as pessoas estavam ali há horas e que certamente tinham fome. Foi buscar comida e distribuiu pelos doentes da sala, a senhora da ponta queria Nestum, ri-mos. Queques, bolachinhas, leite ou fruta ainda se arranja agora Nestum numas urgências de hospital é um pedido equivalente a uma mariscada.

Entretanto o Sr. Manuel acabou o seu tratamento eram 3h mas não tinha ninguém na sala de espera que o levasse para casa, a enfermeira ligou para familiares mas ninguém atendeu, emocionei-me. Isto deve ser a situação mais banal numas urgências de hospital, mas a cara de tristeza do Sr., aquela impotência, o não saber ir para casa despedaçou-me. Mas a super heroína rapidamente arranjou um maca e deitou o S. Manuel no corredor para passar a noite, tapou-o com uma mantinha e disse-lhe "Sr. Manuel vai passar a noite connosco, pode descansar que o seu filho de manhã vem buscá-lo". Se isto não é amor pelo próximo, não sei o que será.

Fui atendida. Mandaram-me fazer RX, análises e ainda tive direito a medicação intra-venosa. Para quem tem fobia a agulhas nada mau.

No caminho para o RX um auxiliar encaminhou-me por corredores e corredores apinhados de pessoas em macas, "isto é um pesadelo", exclamei. Respondeu-me que aquilo não era nada, que estava a ser uma noite muito calma e tranquila. Contou-me que em Dezembro quando as urgências de Almada e Barreiro fizeram greve isso sim era um pesadelo. Não consigo imaginar o cenário. O que eu estava a ver para mim já era suficientemente caótico, não havia 1 metro disponível sem macas. 

Fiz tudo o que o médico mandou e restou-me aguardar novamente na sala do pânico. Naquele momento uma velhota decidiu fazer uma gritaria gigantesca, pensei que a estavam a amputar ou algo do género, mas não, estava só descontrolada e novamente a enfermeira Matilde entrou em ação para tentar acalmar a senhora. 

Enquanto esperava pelos resultados dos exames fiz medicação intra venosa e fiquei em pânico quando a enfermeira disse o que ia fazer-me. Avisei-a que odeio agulhas e ela foi tão querida que na verdade mal senti a espetadela. Chorei novamente!

Saí daquelas urgências às 5h com diagnóstico de pneumonia e ordem de repouso para 6 dias. Dirigi-me à enfermeira Matilde Almeida Guerreiro e disse-lhe: "Obrigada pelo seu profissionalismo é muito humana", e ela ficou sem saber o dizer. Deve ser tão raro alguém agradecer e reconhecer o trabalho que presta que ficou sem palavras. 

Adorava que este texto chegasse à enfermeira Matilde e a todos os profissionais que trabalham diariamente no setor da saúde, enfermeiros, médicos, auxiliares, etc, simplesmente para agradecer o trabalho que desempenham nas unidades de saúde do nosso país, 24h por dia, 7 dias por semana.

É preciso ter muita vocação e coração. 

Obrigada. 
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