20 outubro 2018

A fada da cremalheira

Eu ainda sou do tempo em que os dentes caíam e basicamente não acontecia nada de especial. 
Quer dizer até estou a mentir porque as avós sempre gostaram de mandar embrulhar os dentes com os quais mamámos numa ceninha de ouro. Esse clássico da ourivesaria servia de penduricalho para aquele colar que usámos uma vez na vida, no casório de alguém.

Minhas amigas se não tiverem o vosso dentinho de leite embalsamado em ouro das duas uma, ou as vossas famílias estavam-se a cagar para criar memórias nas vossas vidas, ou não tiveram dentes de leite. 

Sobre este tema ainda recordo tão bem a satisfação da minha mãe em ver-me bálizes. Se os dentes não caíam naturalmente e abanicavam durante muito tempo, ela fazia questão de dar um empurrãozinho. A minha mãe usava uma técnica milenar inspirada nos homens de neardental e achava-se a maior lá da aldeia.

Basicamente laçava o dente teimoso com uma linha de costura e quando eu menos esperava dava um puxão à macho e a dentuça voava da boca para sabe-se lá onde.  Juro pela minha saúde que isto é verdade e creio que não estou sozinha porque nos anos 80 as mães eram assim muito especiais. 
Nunca ouvi falar em fadas (pelo menos que me recorde).

Passaram 30 anos, os miúdos mudam a dentição e parece que é natal. Toca a comprar o presente para a fada das favolas trazer enquanto dormem. Nós pais somos incríveis. 

Por aqui é igualzinho. O meu menino crescido com 5 anos já lhe faltam 2 peças à frente e nós cumprimos à risca com o lendário ritual. O primeiro dente caiu no segundo dia de escola nova e ele ficou tão feliz quando mostrou a novidade. O segundo caiu enquanto dormia. Eles sentem-se tão crescidos com esta evolução. 

Aqui na tribo somos muito apologistas de manter as lendas bem vivas e de fazê-los acreditar nestas histórias. Afinal a magia das crianças é isto mesmo.

Adoro ver a reação deles quando vêem que aconteceu, que a fada deixou um presente ou que o pai natal comeu o lanche e ai de quem disser aos meus filhos que isto não é verdade. 

Nunca vou entender os pais que não se esforçam para que os filhos vivam estes momentos de pura magia.

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